Por JB Costa
E ainda tem gente que duvida da participação efetiva e direta dos EUA no golpe.
EUA queriam rever negócios com Brasil para ajudar a depor Jango
Três dias antes do golpe, Casa Branca pediu orientação sobre quais medidas deveria tomar
Governo questionava embaixador se deveria "segurar a aprovação" de empréstimos para enfraquecer presidente
FELIPE SELIGMAN
DE BRASÍLIA
ANDREA MURTA
DE WASHINGTON
DE BRASÍLIA
ANDREA MURTA
DE WASHINGTON
Em apoio ao golpe de 1964, a Casa Branca estava decidida a rever as relações econômicas com o Brasil para enfraquecer o governo do presidente João Goulart.
A informação consta de documentos secretos liberados pelo governo norte-americano e obtidos pela Folha.
Os papéis relatam uma reunião na Casa Branca em 28 de março de 1964, três dias antes do golpe, com conselheiros diretos do presidente Lyndon Johnson e agentes de alto escalão da CIA.
Esse encontro ocorreu após o recebimento de mensagem do então embaixador dos EUA no Brasil, Lincoln Gordon, com detalhes e pedidos para possível participação norte-americana no golpe para derrubar Jango.
Essa participação ficou conhecida como "Operação Brother Sam": o governo dos EUA discutiu a possibilidade de enviar navios, combustíveis e armamentos para auxiliar os militares golpistas.
Novos documentos mostram que os planos dos EUA não tratavam só de apoio militar. Um dos textos, que resume a reunião do dia 28, diz que a Casa Branca deveria telegrafar a Gordon: "Queremos que o embaixador reveja nossas relações econômicas e financeiras com o Brasil e nos recomende quais ações devemos tomar".
No mesmo dia, esse telegrama é enviado ao Brasil e fala em medidas concretas, como abandonar ou modificar negociação sobre a dívida brasileira e repensar as taxas de importação de café.
A Casa Branca questiona se deveria "abandonar, reduzir ou modificar de alguma forma a estratégia de negociação da dívida para evitar fortalecer o prestígio de Goulart". E mais: "Devemos segurar a aprovação ou o anúncio de empréstimos assistenciais? Outras medidas não militares são desejáveis para polarizar mais a situação em detrimento de Goulart?"
Gordon pediu o envio de armas sem identificação serial ou fabricadas fora dos EUA. A Casa Branca, porém, viu dificuldades em fornecer armamento "que não fosse depois atribuído a uma operação secreta dos EUA".
Um dos memorandos do Estado-Maior americano, datado de 31 de março, detalha ordens de envio de força-tarefa naval para a região de Santos para "estabelecer presença dos EUA nesta área".
Também neste caso aparece a preocupação de não expor os EUA: "Não sabemos se podemos oferecer disfarce plausível para a força naval".
As medidas não chegaram a ser executadas, porque Jango não resistiu ao golpe.
Governo buscou o apoio do "New York Times" ao golpe
DE WASHINGTON
DE BRASÍLIA
DE BRASÍLIA
A Casa Branca tentou fazer com que os maiores jornais americanos publicassem textos críticos a João Goulart e favoráveis aos militares antes do golpe de 1964.
Memorando que resume reunião de integrantes do governo Lyndon Johnson em 28 de março de 1964 mostra intenção de pedir ao "New York Times" e ao "Washington Post" apoio à saída de Jango em "editoriais satisfatórios, chamando a atenção para a situação no Brasil".
Temia-se, porém, o risco de os jornais não seguirem a linha desejada: "Isso teria de ser gerenciado com cuidado, pois o editorial poderia facilmente sair insatisfatório".
A estratégia é comum nos EUA e foi usada pelo então presidente George W. Bush (2001-2009) para obter apoio à Guerra do Iraque. Boa parte dos jornais fez posteriormente mea-culpa por ter cedido à pressão da Casa Branca.
Em 1964, o plano só funcionou em parte. Instados ou não pelo governo americano, os jornais criticaram Jango. Em 3 de abril, o "New York Times" publicou editorial dizendo que "Goulart era um general sem regimento" e, no dia 7, que sua gestão era ruim de todos os pontos de vista.
O "Post" disse em 3 de abril que Jango era um oportunista errático "com poucos talentos". Mas eles também criticaram os golpistas.
"A impressão é que, para defender o país da subversão totalitária, os novos governantes estão usando métodos totalitários", escreveu o "Post". "A saída [de Jango], ainda que desejável, não precisa e não deve levar a uma ditadura", afirmou o "NYT".
"A impressão é que, para defender o país da subversão totalitária, os novos governantes estão usando métodos totalitários", escreveu o "Post". "A saída [de Jango], ainda que desejável, não precisa e não deve levar a uma ditadura", afirmou o "NYT".
Consultado sobre a pressão da Casa Branca em 1964, o "New York Times" disse não ter dados tão antigos, mas que seu "conselho editorial se reúne com integrantes de governos do mundo todo há mais de cem anos". (ANDREA MURTA e FELIPE SELIGMAN)
http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/a-operacao-brother-sam-contra-jango
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